quinta-feira, 9 de setembro de 2010

helpless

Feeling helpless is a good reason for not to be, even when the birds crossing the sky are just a faded memory. Or did I dreamt? No, they were there, you could hear them in the cold blue sky. I dream to be there again.

http://www.youtube.com/watch?v=L0a8UAD_b5o

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Governo britânico pede desculpas às vítimas da talidomida

Este breve texto, "alinhavado" um pouco á pressa, poderá apenas servir de memória de uma tragédia, julgo que já praticamente esquecida ou ignorada, a passagem dos mais de 50 anos do aparecimento de um medicamento contendo uma droga chamada Talidomida que afectou a vida a milhares de pessoas. Foi escrito apenas como um desabafo, ou talvez pela certeza do direito a um grito de revolta, pelo silêncio, pela facilidade com que parecemos esquecer, pelo encolher de ombros que pouco mais significa do que indiferença.

Depois de ler a notícia que serve de título, amplamente divulgada nos “media” britânicos, e depois de ter ficado a saber que o Governo brasileiro aprovou recentemente a atribuição de uma pensão especial para as pessoas vítimas da Talidomida. É pena que em Portugal, mesmo sendo, felizmente, muito poucas as pessoas que nasceram com malformações, nunca tenhamos sequer sido reconhecidos e apoiados. Com a excepção da Fundação Calouste Gulbenkian, que ajudou financeiramente muitos de nós em deslocações a centros de reabilitação na Alemanha e Inglaterra, pela humanidade de um homem chamado Azeredo Perdigão, na altura Presidente da Fundação, a quem presto homenagem. No meu caso foi impossível reconhecer a origem por o médico não ter prescrito o medicamento mas ter usado amostras que recebera, com certeza do laboratório e, na altura do parto, ter declarado as malformações como de "origem desconhecida".

Os governos/políticos/decisores portugueses, que em momentos históricos souberam tomar iniciativas muitas vezes pioneiras, tantas e tantas vezes optam por secundarizar situações, aparentemente “desconfortáveis”, ignorando e tratando com indiferença concidadãos que, por um ou outro motivo, se viram confrontados com maiores desafios. Quando, no estrangeiro, me perguntam qual a situação das pessoas com deficiência em Portugal, sinto uma imensa dificuldade em dar uma resposta que não transmita a imagem de um país demasiado indiferente ao outro, ao “diferente”, um país com uma visão pobre sobre situações de justiça social.

Não proponho, como na Grã-Bretanha, um monumento às pessoas vítimas da Talidomida, serviria apenas para "enfeitar" o recanto de um qualquer jardim. Mesmo sendo tão poucos, não espero que algum dia seja criado um fundo de apoio (tal como o que foi criado na Grã-Bretanha na década de 1960, e agora aumentado para suprir os gastos decorrentes das dificuldades e problemas de saúde que vão aumentando com o passar dos anos), simplesmente não acredito.

Sinceramente, o que é que eu gostava? Talvez porque nunca fui reconhecido, porque não tenho provas para confirmar que foi a Talidomida a causa das minhas malformações congénitas, talvez gostasse que alguém neste país admitisse publicamente que, apesar de tudo, apesar de nunca reconhecidos, conseguimos fazer alguma coisa de válido nas nossas vidas. Não exijo um pedido de desculpa como os britânicos, tratou-se de um erro que não assumiu dimensões dramáticas neste país, porque, não duvido, muitos médicos e responsáveis pela área da saúde atentos evitaram a prescrição generalizada do fármaco. Contudo, sejamos honestos, o único pedido de desculpa sério seria o reconhecimento de nada ter sido feito para proporcionar as condições mínimas para que essas famílias não tivessem que travar uma luta contra preconceitos e obstáculos de toda a ordem na mais absoluta solidão. Muito menos espero manifestações hipócritas ou pequenas caridades que aliviem consciências.

Afinal, foi há 50 anos que aconteceu o primeiro caso em Portugal, tanto quanto sei. Nada temos para comemorar, apenas quero registar uma data que lembra que existimos. Não nos servirá de nada propor comemorações sobre o centenário das primeiras vítimas da Talidomida.

Serve ainda para dizer que o medicamento continua a ser ministrado a mulheres grávidas de muitos países da América Latina, África, Ásia. Que fique a memória, por todos os que, entretanto, já desapareceram.

José Álvaro M. da Costa